domingo, 17 de junho de 2012

Angústia




 


Angústia


O vómito da terra que se anuncia
A noite vem suave e morna
Espelhos d’água reflectem o sopro da vida
A loucura grita desnudada
Ouvem-se ecos de murmúrios serenos
A lua ergue-se distante e alta
Enquanto o mar se acalma
As pedras agitam-se no silêncio
A escuridão brilha caprichosa
Caem do céu pedaços de estrelas
A vida pára e a morte avança
O tempo olha surpreendido
Os soluços distantes de uma velha
Que chora por ainda viver
O espaço sideral envolve a morte
Ouço agora a voz de uma criança
Duma criança que grita
Que grita porque tem fome
Aqui e além mendigos estendem as mãos e odeiam-nos
À porta de uma casa velha
Está um miúdo descalço e esfarrapado

Continuo a caminhar...
Desde que nasci que caminho... para a morte
Agora do meu lado esquerdo
Vejo o mar...sim o mar
Porque o mar ainda vive
E eu também...

Paulo Lemos (1984)









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