A porta
Fomos trepando
as estradas
que à nossa
frente se desenhavamora subindo... ora descendo
Como que paridas do esquisso de
um qualquer engenheiro alucinado
Pareciam não
ter fim... com curvas ocultas
e bermas onde os
fantasmas das silvas nos iam picando e cortanto a pele
E o sangue, o nosso, ia lavando a
estrada sinuosa, misturado com o suor,
formando uma pasta, que nos ia
aliviando a dor, que mais à frente,
acabava sempre por regressar
Passámos
atalhos, onde os demónios
da noite nos
arrancaram pedaçosda alma que, de tanta dor, acabou por
parar de doer, ou então erámos nós
já habituados a ela que, embora
lá, já a nem sentíamos...
Mas chegámos
assim, de alma lavada,
pelo frio e o
sangue e o suor e a dore as chagas cicatrizadas, ao cruzamento,
já não traçado pelo engenheiro alucinado,
onde nos acabámos por encontrar...
Em frente um caminho,
já sem as pontas
acutilantes que antes nos cortavam e,protegido na luz e sinais, que afastam os demónios
A paz essa, deixou de se ocultar por
detrás das silvas, agora secas neste
trilho, inócuas, apenas presentes para nos
lembrar o tempo em que só paravam
de se agitar quando nos viam o sangue
Para lá da
porta de luz, onde espíritos de antanho
de cavaleiros brancos,
se suspendemapenas para nos abençoar, uma nova estrada
Não sabemos quão longa esta é,
nem sequer onde vai dar. De verdade pouco importa,
desde que continuemos a caminhar
de mãos dadas nos silêncios em que forjámos
as nossas cumplicidades, enquantos as feridas
secam com o vento ameno que sopra
dos lábios dos anjos
Foi da dor que
nascemos. Dessa que vamos
deixando em retalhos
que ficam a secar ao sol, que os abutres hão-de vir comer, até nada
restar dela. Apenas o resto do caminho,
cujo destino desconhecemos, apenas a tua mão
na minha e os silêncios que o nosso amor
agora povoa, apenas a ternura suspensa nesta paz,
nesta estrada só nossa. Pautada pelas pausas
em que nos abraçamos, apenas nós....
e... a luz... e a paz...
Paulo Lemos
Sem comentários:
Enviar um comentário