sábado, 7 de julho de 2012

Limiares



Limiares

pressentias que um dia
o vértice que une o passado
e o futuro deixaria escapar
pelas fendas da memória
os demónios que mantinhas
ocultos

trazem-te a nostalgia oblíqua
de passos antigos
apodrecidos nas cancelas dos 
limiares obscurecidos pelo gosto
do fel que te arranha 
ainda a língua

nesse vértice clamariam pelo
sabor adocicado que se te 
eleva do coração e te conduz a
semicerrar os olhos em ânsias
e tremuras que havias enterrado

urge encetar a libertação dos fantasmas
demônios agoirentos de uma escuridão
que outrora te cobriu

a paz reclama-te numa imensidão
luminosa que há muito pressentias
chamaria por ti quando o tempo
acertasse com a luz coada
do lugar de descanso...onde
apaixonada te deitarias para
finalmente abrir os olhos para
a luz que o teu coração acendeu
iluminar o universo que agora
também é meu...

Paulo Lemos

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Fala do coração




Fala do coração

Gosto da tua boca salgada
Do mar com que olhas para mim
Da tua saudade embrulhada
Do amor esquecido que assim
te nasce no coração... luz
em nuvens de algodão
Palpitacões cor de  marfim

Gosto de ti como és
Como me fazes sentir
Flor de liz e de cheiros
Crianças... a brincar por fim
Palavras que vão para lá
Sorrisos que voltam para mim

Gosto dos passos que damos
Rumo a uma outra galáxia
Sem apodrecidas memórias
Que nos travem ou embaracem

Gosto de saber que aí estás
E do que sentes por mim
Degrau a passo comigo
Sobes ao espaço que sinto

Por ti perdi já a dor
Vi o clarão lá no topo
Subo degrau a degrau
Sabendo que a tua mão
Está lá e aguarda por fim...

Só porque o teu coração
nos falou já... que é assim...

Paulo Lemos

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Arabescos



Arabescos


podia encantar-te com mil palavras
ou com apenas uma
escrever-te em amarelo
vastas planícies de girassóis
desenhar a branco campos
onde os malmequeres ondulam
ou até escrever-te em azul o mar

os poemas estilhaçam reticências
desdobram-se no odor da maresia
correm nos rios devagar
pintam- se das cores
que nos fazem sonhar

as palavras são a magia
onde as emoções recriam
cenários que a lua pintou
onde outrora apenas reinava
a nostalgia...

podia escrever-te mil palavras
ou pintar apenas uma
pois o poema está já escrito
no teu coração
ainda antes de o rio desenhar
arabescos no silêncio
a preto no branco que as
estrelas iluminam...

Paulo Lemos

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A ponte



A ponte


o rio risca a passagem
a outra margem de mim
a ponte estende o tapete
caminho feito coragem
olhar de mar que colhi

cintila o azul emergente
nadam as ondas caladas
coracão agita as águas
escrevo poemas com nuvens
palavras transfiguradas
em anil de olhares gritados
pelo silêncio... a paixão

sobe a maré... lá no rio
trás o amor que emerge
naquele azul... mas não frio
naquele mar... naquele rio
dentro de mim... o que sentes

a ponte não é miragem
nem perdidas ilusões
é o lugar de passagem
vertigem louca... selvagem
doçura feita coragem
coração corre na margem
lábios juntos na voragem
beijos húmidos... viagem
que o amor vem na aragem
e passa para a outra margem
na voragem tão selvagem induzido pela coragem
a viagem começou...

Paulo Lemos

Liberdade



Liberdade

Campânula de ilusões
incandescentes
Magias herdadas de
outros Verões
Luas flamejantes em noites
Curtas... longas...
caminhos... orações

Já não dançam as negras fadas
engolidas por luminárias tardias
largos passos de gigante
rumo à estrela convexa
à luz que por mim ardia...

A cada passo... um sorriso
ou então um riso crú
morreram as sereias de negro
ficou o caminho sem cruz
e... surgiste tu... princesa
que a chama quente seduz
lábios dos sorrisos ardentes
estrela d’ alva cintilante
meu caminho...minha luz...

Paulo Lemos

terça-feira, 3 de julho de 2012

Iluminas-me



Iluminas-me

Vivia assim... quase feliz
Ou quase infeliz... que importa...
Na penumbra... resignada
Apalpava a vida... andava...
quase feliz... onde a falta de luz
nem me dóia já...

E... as palavras... sempre as palavras
um dia... as palavras... feitas luz
Uma pequena... depois outra...
e outra ainda...

Ardiam na emoção... as palavras
iluminava as palavras... a emoção
Num ciclo infinito de luz
e palavras.... e emoções

E... agora... que as tuas palavras
me iluminam... uma atrás da outra...
e outra... a minha alma a brilhar
o brilho a escapar-me pelos olhos
a iluminar-me o sorriso

Agora... que as palavras
[e  como queimam as tuas palavras]
Me habituaram à luz... as palavras
e... ainda me doem os olhos
do brilho... das palavras
das tuas.

O sorriso...que as tuas palavras
me iluminam... é teu...
A luz... essa é agora minha
e as palavras... as tuas
também...

Paulo Lemos
(Fotografia de Marla Melo)

Névoa




A Névoa


passa a areia pelo vento
a branca névoa oculta os passos 
deslumbrantes passeios inquinados
rumores passados que nos acossam

vem o vento com os braços
carregados de areias cintilantes
tapa os passos do passado
aplana e prepara o espaço
em frente...

doce a violência do soar do mar
salpicos salgados afagam a pele
os passos inscrevem-se decididos
na lonjura da vida que continua

sorrisos rasgam-me agora a face
enquanto lambo o sal dos lábios
e são os teus que sinto... molhados
frescura que apaga o passado
em cujos silêncios me encontro

e o sal que adoça o sorriso
dos lábios meus... talvez dos teus
o mar ali ensurdecedor a gritar
o vento com a areia nos braços
os passos limpos... em branco

a neblina lá longe... esconde a dor
até se deixar de ver... difusa...
esquecida... soterrada pelo vento
na areia que persiste em tapar
os passos... os do passado

sobra o sal... e o sorriso...
que a névoa nunca ganha ao mar
e esse... foi sempre meu

Paulo Lemos