Provavelmente
Provavelmente
as nuvens obscurecem
o azul
renitente que me pinta por dentro olhos de nítida luminosidade com
brilhos de dimensões relevantes
numa aguarela que esbocei em
dias de dor ainda latente
Provavelmente...
Provavelmente
o azul renitente
obscureceu a
lua em cuja face ocultahavias depositado os resquícios que
a tua alma dorida rejeitava como
remanescências de um tempo em
que apenas a dor te pintava o coração
de uma negridão absoluta e indizível
Provavelmente...
Provavelmente
a lua obscurece o brilho
transitório
que a simplicidade ilusóriaparecia emprestar à vida enquando
a negridão absoluta aparentava dissipar-se
no fio dos dias onde encontravas o consolo
diluído nas horas em que o tempo ia
escorrendo como se não houvesse
princípio nem fim apenas o estático
absoluto do instante
Provavelmente...
Provavelmente
o sol ilumina a lua
mesmo oculto
nas noites que não esqueceste e guardava secretamente o brilho que
os teus olhos lhe haviam emprestado até
chegar o tempo de eu pintar a aguarela
de azul nítido que obscurece a lua e te
devolveu o brilho luminoso apenas viável
pelos reflexos do mar viajando suspensos
nas minhas palavras até ao teu olhar...
Provavelmente...
Paulo Lemos
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